Sala de Estar

Puxei os meus joelhos para cima encostando o meu queixo às minhas mãos enquanto olhava para os bonecos que estavam a dar na televisão. Abbie devia estar com Rosie, ultimamente andava-me a afastar um bocado de toda a gente, até delas e nem sabia bem como porque estava a toda a hora com elas. - Kyle, a July pôs a comida no frigorífico, quando tiveres fome vai lá - disse a minha mãe que estava cheia de pressa para ir para o trabalho.

Puxei a camisola para baixo, depois de ter acabado de dar de mamar a Rosie e encostei-a ao meu peito enquanto lhe dava leves palmadinhas nas costas para que arrotasse. Ao menos a minha bebé ainda precisava de mim, já Kyle há mais de uma semana que andava distante. Soltei um suspiro, encostando a cabeça às almofadas e fiquei a olhar para a porta. Eu não sabia o que se passava, por mais que eu tentasse perceber, era como se ele se isolasse nele próprio, podia estar ao pé de nós, mas era quase como se não estivesse. Se ao menos conseguisse ajudá-lo..se eu ao menos conseguisse fazer alguma coisa para trazer o meu Kyle de volta. Baixei o olhar para Rosie, que interrompeu os meus pensamentos com o seu barulhinho e baixei-me até lhe beijar a testa, aconchegando-a nos meus braços.
- Porque é que a mãe não consegue ajudar o pai? - perguntei baixinho, olhando os seus olhos ainda de uma cor indefinida.- também tens saudades dele, não tens bebé? - soltei um suspiro, tocando com um dedo no seu narizinho e acabei por me levantar com ela ao colo, saindo assim do quarto. Não ia deitá-la já, ia deixar que adormecesse no meu colo, ainda queria aproveitar que estava acordada. Ao menos assim tinha companhia. Desci as escadas, vendo Kyle sentado no sofá e soltei um suspiro baixo, andando devagarinho até chegar ao pé dele.- podemos fazer-te companhia? - perguntei num tom calmo, apontando com o queixo para o espaço livre ao seu lado no sofá.

Olhei pela janela vendo o meu pai rachar a lenha, ele fazia aquilo desde que eu me lembrava, dizia que era bom para a mente. Encolhi os ombros para mim próprios e cruzei os braços ao peito encostando-me ao sofá e voltei a concentrar-me nos desenhos animados. Desviei o olhar da televisão para Abbie, que estava na sala com Rosie ao colo e afastei-me do meio do sofá para uma ponta assentindo com a cabeça. - Podem - Segui o olhar de Rosie que não parava de me olhar também.

Mordi a parte de dentro da minha bochecha ao ver o seu estado e voltei a suspirar, pela milésima vez, agradecendo por pelo menos ter deixado que eu ficasse ali. Sentei-me, passando as pontinhas dos meus dedos pelo cabelinho de Rosie, que não parava de olhar para o pai, e depois voltei a subir o meu olhar para Kyle, que também a olhava.
- Queres pegar nela? - perguntei baixinho, aproximando-me ligeiramente dele.- ela tem saudades tuas.- disse baixinho.- aliás, temos as duas.

Juntei as sobrancelhas quando olhei bastante atentamente para os olhinhos de Rosie e estiquei as mãos para a agarrar tal como Abbie tinha perguntado se queria - desculpa - pedi - preciso de tempo - olhei para Rosie quando já estava nos meus braços e passei um dedo pela sua bochecha e dando-lhe um beijinho na testa, que a fez fechar os olhos.

Fiquei a aconchegar Rosie nos meus braços até Kyle se aproximar para pegar nela, tal como e tinha sugerido. Deixei que o fizesse, recostando-me no sofá, e olhei os dois, concentrando-me mais no meu namorado, visto que falava comigo.
- Não tens de pedir desculpa.- abanei a cabeça e acabei por me aproximar o suficiente para lhe acariciar a bochecha.- eu só quero que não te afastes, porque nós podemos ajudar-te.- falei baixinho.- a Rosie faz-te bem, estares com ela faz-te bem.- assenti.- eu percebo se não quiseres falar comigo sobre o que se passa.- encolhi os ombros.- mas não te afastes dela.

Elevei o olhar quando senti a minha bochecha ser acarinhada ouvindo-a dizer que elas me podiam ajudar - eu não preciso de ajuda - disse- só preciso de não pensar. - baixei o meu tom de voz e desviei o olhar para Rosie, era mais fácil olhar para ela. - talvez esteja a perder a cabeça. - continuei no mesmo tom apagando a televisão e mandando o comando para a mesa à minha frente.

Juntei ambas as sobrancelhas à medida que ele falava e baixei ligeiramente o olhar para a nossa filha, que continuava muito sossegadinha nos braços dos pais. A ligação entre eles era muito forte, já antes de ela estar cá fora eu sabia que assim era. Voltei a subir o olhar para Kyle, no preciso momento em que ele disse que poderia estar a perder a cabeça e toquei-lhe logo no queixo, fazendo com que me olhasse.
- Não estás a perder a cabeça amor.- abanei a minha.- não estás nem vais, porque eu não vou deixar.- murmurei, voltando a passar os meus dedos pela sua bochecha.- só precisas de descansar e de te focar em nós.- disse.- nós vamos manter-te são.- assenti, abraçando-o.- tu vais ficar bem.

Quase que fui obrigado a olhar Abigail, coisa que se tornava difícil fazer desde que me tinha afastado, e assenti com a cabeça, para ver se conseguia voltar a olhar Rosie. - Eu sei - murmurei sentindo-a abraçar-me e deixei que a minha cabeça pousasse no seu ombro. - Eu pensava que ia ficar tudo bem, a Rosie nasceu e eu estava feliz. Mas depois de entrar lá - encolhi os ombros. Um pequeno flash tinha desencadeado isto tudo.

Cheguei-me mais para ele assim que o senti encostar a cabeça ao meu ombro e passei uma mão pelo seu cabelo, fazendo-lhe festinhas no mesmo enquanto o ouvia falar. Soltei um pequeno suspiro, olhando para a nossa bebé quando falou nela e só não me afastei para o olhar porque já tinha percebido que ele não queria.
- Mas vai ficar tudo bem amor.- disse, passando as pontinhas dos meus dedos pelas suas costas.- vais descansar o tempo que precisares, eu vou dar-te muitos miminhos e não vais pensar em nada até te sentires preparado para voltar ao trabalho.- disse.- mas só quando te sentires preparado.- murmurei.- porque o que tu precisas primeiro é de ficar bem.

Mordi o lábio inferior encostando a cabeça ao ombro de Abbie. Não sabia se o que tinha ia passar assim, com "miminhos", mas não disse nada, assentindo. - Sim - murmurei quando ela disse que só ia trabalhar quando me sentisse trabalhar. Eu tinha-me sentido trabalhado, depois é que já não me sentia. - Eu vou ficar bem - tinha que ficar, por ela, mas principalmente por causa de Rosie e do meu irmão que precisavam de mim animado.

Fiquei a passar os dedos pelo seu cabelo, virando a cara até lhe conseguir beijar a bochecha e assenti assim que o ouvi dizer que ia ficar bem. Ele tinha de ficar, toda a gente precisava do Kyle de volta, aliás, acho que até ele precisava dele próprio de volta.
- Já me podes dar um beijinho? - perguntei baixinho.- e olhar para mim? Eu sei que a nossa filha é mais bonita.- sorri.- mas preciso que pares de me evitar.- voltei a roçar os meus lábios na sua bochecha.- eu amo-te e nada mudou só porque te afastaste um bocadinho, é normal que precises de espaço.

Levantei o olhar quando me perguntou se podia dar-lhe um beijinho e aproximei-me dela, beijando-lhe os lábios sem ligar a nada do que disse a seguir. - Eu preciso de espaço, mas também preciso de ti - voltei a encostar-me a ela dando festinhas na bochecha de Rosie - queres comer alguma coisa? - perguntei - a July deixou não sei o quê no frigorífico - encolhi os ombros.

Sorri contra os seus lábios, quer pelo que ele disse quer pelo facto de me ter beijado finalmente, e depois de retribuir ao seu beijo, passei as pontinhas dos dedos pela sua bochecha, tal como ele tinha feito à nossa filha. Olhei-o assim que o ouvi perguntar-me se queria comer alguma coisa e acabei por encolher os ombros, assentindo.
- Sim, vamos comer.- murmurei.- até porque aposto que ainda não comeste nada de jeito hoje.- fiz uma pequena careta, levantando-me e estiquei uma mão para ele.- anda, vamos ver o que é que a July preparou para nós.

Depois de percorrer todas as ruas de LA, voltei para casa sabendo que tinha acontecido o pior, o que eu mais temia. Neste momento estava a dar um pontapé preciso à mesa de centro da minha sala fazendo com que tudo o que era vidro se partisse. - Tem calma Kyle - pediu a minha mãe que começou a limpar tudo.
-Como é que eu posso ter calma? - perguntei à minha mãe num tom mais alto do que o dela - Como é que eu posso ter calma quando a minha namorada, mãe da minha filha, está por aí nas mãos de um qualquer? - perguntei irritado.
-Tu não sabes, ela pode estar por aí perdida... - tentou acalmar-me o meu pai, sem sucesso, até porque nem lhe respondi, apenas continuei a andar de um lado para o outro, fazendo listas infinitas de pessoas que pudessem andar atrás da nossa família. Tinha-me livrado da máfia, na última missão quando salvei o meu pai, mas ainda havia muita gente que poderia querer vingar-se.
Fechei os olhos quando ouvi, pelo intercomunicador, Rosie a chorar e atirei-me para o sofá, agarrando-me à cabeça. Naquele tempo todo, que tinha sido preenchido por adrenalina por ter andado à procura de Abbie, não tinha caído em mim. Ela tinha desaparecido... e podia estar em qualquer parte.

Senti a mão da minha mãe sobre as minhas costas enquanto eu tentava acalmar tanto o meu choro silencioso, como a minha cabeça que estava a pensar demasiado. - Obrigado - agradeci-lhes quando foram buscar Rosie por mim e levantei a cabeça, passando as mãos pela cara e puxando o cabelo para trás. Respirei fundo, tentando acalmar-me e olhei para a minha família, menos os mais novos, que já estavam a dormi, e para os seguranças que estavam durante a noite fora de casa, impedindo qualquer invasão - quero a segurança desta casa quadriplicada, ninguém entra, ninguém sai, ninguém toca na minha filha nem nos miúdos - "em situações de desespero, em que tens que ser racional, tens que respirar fundo e ser frio, pôr as emoções todas de lado sem esquecer quem és", tinha-me dito uma vez o meu pai, quando era ainda apenas um miúdo que não sabia o que aquilo significava.

O meu pai tinha falado com os seus contactos na polícia e explicado tudo o que se estava a passar, felizmente eles não nos disseram que tínhamos que esperar e começaram logo a investigar. - Sabes de alguém que possa ter começado isto? - perguntou o meu pai, já estávamos os dois sozinhos na sala, a minha mãe tentava acalmar Rosie, eu simplesmente já não a conseguia ouvir. A culpa não era dela, era mesmo minha, tinha a cabeça demasiado cheia e estava com medo que acontecesse alguma coisa a Abbie.
-Sei lá, pai - suspirei passando as mãos pelo cabelo - tanta gente pode ter feito isto - abanei a cabeça e olhei para trás quando ouvi um barulho, percebendo que tinha sido um dos meus colegas do exército que tinha vindo para.
-Pelo menos sabemos que cá, não vem. Ninguém vai conseguir passar este monte de gente todo - disse o meu pai com um ligeiro sorriso que era suposto me deixar mais tranquilizado, mas não deixou. Sabia que era verdade, ninguém tocava na minha filha, isto, por causa de agora ser general, não tinha pedido para esta "promoção", ainda mais sendo tão novo para ser um, mas dava-me muitas vantagens, tal como esta.
-Só espero que a encontrem- murmurei passando as mãos pela cara. Não conseguia fazer nada da minha vida se não a tivesse comigo.

Ao chegar a casa levei com todo o tipo de repreensões dos meus amigos. "Onde é que estiveste?" "És maluco?" "Queres desaparecer ou ser morto" Eu não disse nada à cerca de onde tinha ido e do que tinha ido fazer, apenas me virei para o meu pai, para a minha mãe e para o chefe do departamento de investigação que estava ali connosco, e disse: Foi o Jace.
Tinha que ser ele. Como é que ele poderia ficar tão calmo perante a notícia que ela tinha desaparecido, sendo ele tão obcecado? Não podia. Pois. Então era ele que a tinha. Fazia sentido e eles tinham concordado, mas a polícia não podia fazer nada quanto a isso por não ter provas suficientes, apenas podia ir falar com ele, confrontá-lo, mas se ele não dissesse nada de mal, quem estava lixado era eu. Suspirei passando as mãos pelo cabelo e o meu pai veio sentar-se ao meu lado, afagando as costas - e se ela fugiu? - perguntei num tom baixo - ele disse que ela fugiu - engoli em seco - pode ser por isso que está tão contente, por achar que tem uma oportunidade.
-Kyle - olhei o meu pai quando disse o meu nome num tom de voz tão sério - ela ama-te e ama a Rosie. Não ia fugir nem com uma depressão pós-parto nem com uma doença mental qualquer.

-Hey - sorri a Rosie quando vi os seus olhinhos abrirem. Afaguei-lhe as bochechas coradas e beijei-lhe a testa. Ela fez uma careta e preparou-se para começar a chorar, mas antes disso já a minha mãe ma estava a tirar do colo para a meter no seu. Suspirei, passando as mãos pelo meu cabelo e levantei o olhar, recebendo uma careta da minha mãe.
-Claro que assustas a tua filha, já viste a tua cara? - perguntou-me - vai fazer essa barba - mandou, mas eu apenas me deitei no sofá. Realmente não ficava muito bem de barba, mas não me apetecia fazer nada e, a única coisa que queria fazer, não podia visto que não me deixavam sair de casa. Agarrei na revista, onde vinha as notícias do que tinha acontecido a Abbie e de ontem, do dia em que tinha ido procura-la e revirei os olhos, mandando-a para o chão.
-Sabes o que é que sou agora? - perguntei ao meu pai que se tinha sentado num dos cantos do sofá. - sou alucinado, pelos vistos alguém me viu a dar uns murros naquela cara do Jace. - encolhi os ombros. - quero lá saber - cruzei os braços e olhei para o tecto. Se continuasse ali, sem fazer nada, ia enlouquecer, precisava de agir.

Não adormeci, mas estava num mundo completamente diferente depois de fechar os olhos. Sentia-me cansado e não conseguia dormir como deve de ser, os pesadelos estavam cada vez mais presentes na minha vida, a cada dia que passava a presença da minha mãe, depois de adormecer, tinha que ser constante para que não me magoasse com os braços ou caísse da cama enquanto sonhava.
-Kyle - ouvi uma voz longe e obriguei-me a sair da praia deserta onde estava, com Abbie e Rosie, para a abrir os olhos. - Kyle - era o meu pai. - Recebeste uma mensagem.- Juntei as sobrancelhas face ao que ele disse. Eu queria lá bem saber de mensagens, eles que se limitassem a procurar pela minha namorada já que não me deixavam fazer nada - É do Jace - continuou fazendo-me saltar da cama. A passo rápido fui até ao andar debaixo, onde eles tinham feito uma espécie de sala de reuniões. Tinha sorte em viver numa família conhecida de militares, toda a gente nos queria ajudar, até montavam um escritório cheio de tecnologia avançada para estarem atentos a qualquer coisa que pudesse acontecer. Sentei-me à frente de um computador onde Jace começava a já a falar. - As coisas que ele diz não tem sentido nenhum - murmurei passando as mãos pela cabeça e, quando a imagem mostrou Abbie, a minha mão tocou inconscientemente no ecrã, como se a quisesse sentir. Engoli em seco, sentindo o meu coração apertar-se e fechei os olhos apenas por uns segundos, tentando arranjar forças para continuar a ver. Senti uma mão no meu ombro e engoli em seco. Nunca pensei que fosse tão difícil voltar a ve-la, sabendo que não estava comigo. -Porque é que ele haveria de se entregar, é que isto é basicamente uma carta de.... - saltei da cadeira mal vi as mãos asquerosas de Jace baterem na cara de Abbie a cerrei as mãos em punhos.
-Calma... - ouvi o meu pai e afastei-me dele. Eu ia mata-lo. Eu ia desfazê-lo e dar de comer aos crocodilos. Ele não merecia viver. Ninguém daria por sua falta. - Kyle, ainda não viste tudo - alertou-me o meu pai fazendo-me sentar de novo e respirei fundo, controlando a minha respiração. Tentei dispersar o pensamento enquanto ouvia o cabrão continuar a falar das coisas que lhe tinha dito mas, assim que percebi que quem ia falar era Abbie, aproximei-me mais da cadeira com um aperto no corpo todo. Senti os meus olhos incharem de lágrimas mal ouvi o seu nome vindo da boca dela e levei as mãos atrás da cabeça, apoiando-me nos cotovelos - Kyle - chamava o meu pai a atenção para eu continuar a ver, mas eu não aguentava ver aquilo. Abbie parecia que se estava a despedir, como se fosse morrer e... Arrepiei-me todo, voltando a levantar a cabeça para a olhar e engoli as lágrimas, sabendo perfeitamente que as lágrimas caiam dos meus olhos uma e outra sem parar.
-Eu vou - murmurei com a voz tremida enquanto assentia com a cabeça como que a dizer-lhe que ia cuidar bem da Rosie - mas vais estar aqui - continuei com o mesmo tom de voz. - não consigo...
-Continua Kyle. - disse o meu pai num tom de voz mais severo. Era apenas destas coisas que eu não tinha saudades. De quando ele conseguia chegar ao ponto de nos torturar. Não queria ver mais. Se era para ela se despedir de mim eu não queria, nós íamos voltar a ver-nos. "não te esqueças de a levar ao parque, aquele nos arredores da cidade, onde demos o nosso primeiro passeio depois de termos voltado de Itália" disse ela. Juntei as sobrancelhas e, a partir daí, ela teve a minha atenção.
-O quê? - perguntei baixinho e abanei a cabeça - não, nós... - endireitei-me no banco, continuando calado e esperei que ela acabasse de falar. Quando o cabrão a tirou, desliguei o ecrã e levantei-me. - Ela disse-nos uma pista - informei - ela... nós... nós nunca fomos a nenhum jardim nos arredores da cidade depois de voltarmos de Itália. - essa tinha sido a altura em que ela e o meu irmão tinham ficado doentes, nós tínhamos tido tempo para tudo menos para passear. - ela está nos arredores da cidade, perto do jardim e... num lugar sombrio? - era mais uma pergunta que uma afirmação - e agora? Já posso fazer alguma coisa? - perguntei limpando as bochechas para que me levassem mais a serio.

Assim que lhes dei as coordenadas do sítio onde estava a falar eles partiram. Já era de noite pelo que eles não iam andar por muito longe, daqui a duas três horas estariam de novo em casa. Suspirei caindo no sofá e passei as mãos pelo cabelo encostando a testa em cima dos meus joelhos. Ela ia rebentar, sentia-me tão cansado.

-Hã? - despertei quando senti o meu corpo todo estremecer e a minha mão agarrar no braço do meu pai que estava esticado na minha direcção, na zona do ombro. Ele sorriu-me gentilmente, sabendo que aquilo podia ter corrido mal e olhei para o lado, vendo que a minha mãe estava também a dormir ao meu lado. - A rosie? - perguntei passando as mãos pela cara.
-Está com o Wild e a July. - assenti face à sua resposta e levantei-me - eles ontem não conseguiram ter nada. Vão começar agora e eu estava a pensar se...
-Claro que vou - interrompi-o sem precisar de pensar duas vezes. Levantei-me indo até à porta de saída e fiz uma careta quando ouvi July gritar o meu nome.
-Toma - disse ela dando-me um pão embrulhado num guardanapo - encontra-a está bem? - pediu-me. Sorri-lhe e puxei-a para um abraço.
-Vou encontra-la. - beijei-lhe a bochecha e disse olá e adeus a Wild, virando costas e metendo-me no meu carro, para que todos os outros me seguissem até à zona que ela tinha descrito. Não era longe, mas também não era perto o suficiente para ir a pé.

Agarrei na nossa bebé que estava a morder o dedo da mãe, por causa dos dentinhos e dei-lhe um dos seus peluches fofinhos, deitando-a entre as almofadas que estavam ao pé dos miúdos. - ela já acalma - olhei para o meu irmão que tratou de lhe dar festinhas na cabeça e que, tal como eu, ela também gostava. Deitei-me de novo agarradinho e Abbie e abracei o seu corpo encostando a minha cabeça ao seu ombro. - Pelo menos assim, de noite, ela vai dormir sempre - murmurei contra o seu pescoço dando-lhe beijinhos leves e inocentes.

Desviei o olhar da televisão para Rosie, mal a senti meter-me o dedo na boca e ia impedi-la de o fazer, se não tivesse percebido que era por causa da comichão que os seus dentes a nascer lhe provocavam. Passei o meu dedo pela sua gengiva, tentando ajudá-la, mas logo tive de o tirar da sua boca quando Kyle agarrou em Rosie ao colo para a ir deitar junto dos nossos irmãos. Sorri-lhes, ajeitando-me no sofá e sorri ainda mais quando vi que, tal como o pai, Rosie, também ficava toda calminha com as festinhas no cabelo que Fred lhe dava.
- Depois disso, vais ser o tio preferido dela, Fred.- brinquei, piscando-lhe o olho e arranjei espaço para Kyle, quando se voltou a deitar ao meu lado. Sorri-lhe, abraçando-me ao seu corpo e os meus olhos fecharam-se de imediato, mal senti os seus lábios no meu pescoço.- isso quer dizer que de noite já vou ter direito a muitos beijinhos? - perguntei, com um sorriso maroto, subindo as pontinhas dos meus dedos até ao seu cabelo.

Sorri com os lábios contra o seu pescoço e assenti positivamente, passando as mãos pela sua cintura com um sorriso meio maroto - sim - respondi-lhe subindo os lábios para os seus, beijando-a calmamente não fosse a vez dos cães interromperem. Suspirei quando o meu veio para cima de mim e abracei-o com uma careta por ele estar tão grande e gigante - chão - mandei depois dele me dar uma lambidela na cama e eu um beijo no topo da cabeça. Assim que ele me obedeceu fiz um sorriso inocente, abraçando-a.